três turnos antes do Natal

Ainda me faltam três turnos antes das férias do Natal.

Chego perto do final deste ano com mais incertezas do que alguma vez tive em relação ao futuro, mas nunca tão presente em mim. Nunca tão no meu corpo. Não sou mais eu sem ele. Não sou nada que ele não seja também.

A abundância transborda em mim, mesmo quando percebo que não sou mais que nada.

Tenho mais espaço para amar, ainda que não me tenha tornado mestre no desapego. Mas permito mais. Percebi que o amor e a vida são experiências do mesmo espectro e não precisam de forma para acontecer.

Sou vida em vários momentos e lugares. Quando oiço a porta do prédio que se abre e os passos do Alessandro nas escadas. Quando sinto o meu corpo em movimento por fora e por dentro. Quando cheira a pão quente. Quando choro. Sou vida quando abraço pessoas que não fogem de abraços. Quando oiço Queen e Beatles. Quando toco outro ser vivo e que me toca a mim. Quando preparo o café de manhã. Sou vida nas nuvens e na chuva e nas cores do céu. Nas gargalhadas e na sopa de couves da terra da minha avó.

E a vida que sou não é minha. Mas é nela que habito.

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