anarquia visceral

Indecisões. Preocupações. Já quis fugir tantas vezes que perdi a conta. Preciso de me resgatar para reencontrar fluidez no dia a dia. Para não parecer tudo tão difícil.

Cozinhar. Comprar casa. Trabalhar. Tomar banho.

Uma paciente uma vez disse-me que carregava consigo as dores do mundo. Quando ouvi aquilo pensei para mim “As minhas dores às vezes parecem do tamanho do mundo!”.

Ela já morreu. Fiquei a pensar que talvez as dores do mundo não são coisa boa de trazer conosco. Mas vendo bem, a dor que carregamos é sempre nossa e de mais ninguém.

Às vezes podemos ver-lhe o reflexo na cara dos outros e ter a ilusão momentânea que não nos pertence. Mas no fundo, é o nosso coração que chora.

Esta cegueira em que caímos constantemente. Destruirá mais do que protege?

Teimo em querer ser anárquica num mundo sem ordem.

Mas dou por mim constantemente a regressar à mesma direção do rebanho.

Tic-tac…

Visceral anarchy

Indecisions.  Worries.  I've wanted to run away so many times that I lost count.  I need to rescue myself to find fluidity in everyday life.  So that it doesn't all seem so difficult.

Cooking.  Buying a house.  Working.  Taking a shower.

A patient once told me that she carried 'the world's pain with her'.  When I heard that I thought to myself "My pain sometimes seems the size of the world!"

She already died.  I thought that maybe the world's pain is not a good thing to carry around.  But if we look better, we understand that the pain we carry is always ours, and nobody else's.

Sometimes we can glimpse it outside, mirrored in others' faces, and believe in the illusion that it doesn't belong to us.  But deep down, it's our heart that cries.

This blindness that we fall into constantly.  Will it destroy us more than it protects us?

I persist in wanting to be anarchic in a world without any order.

But I find myself constantly returning to the same direction, like the rest of the herd.

Tic-tac…