formless

[portugês em baixo]

“Later that day, I experienced something new. Maybe not entirely new, but never in such a conscious way.

I know how to observe my thoughts. The meditation and mindful practices have taught me how to get out of the mind, at least for a while. I know the feeling of being the spaciousness behind the voices in my head.

It is hard to translate, but this time, I sensed a complete detachment from my physical and psychological being. I got accidentally into a kind of dissociative state for a few minutes, where I completely lost the notion of myself's limits.”

These are the words I wrote afterward:

Standing here, with my eyes on this wall that so many others stared before. With their lives paused inside of these chambers, along with the solitude of their shadows. How trivial this life is. We are nothing more than tiny little parts of the whole.  So many illusions of power and supremacy.

Here alone, I lose the notion of time and space. I can perceive the infinity of my existence and realize the insignificance of being me. Even more, I surrender to that insignificance. I am unique, but I'm not special. I'm just a piece of a puzzle that has never been taken apart. 

I submit to the singularity of my smallness, to the subtle belonging of a superior plan. A plan that I do not master and my mind will ever understand. I can do everything in this life because nothing really matters.

I surrender myself to the meaninglessness of this existential form, so that I can enjoy the small silly things. What's the point of fear? Why regret? Why giving up? It doesn't matter.

Nothing matters.

Even gratitude seems an awkward feeling. Why be thankful when everything moves beyond my will?

It's weird, but I'm not afraid. I feel peace and tranquility. It's uncomfortable not to be scared, but I don't need anything else. My existence as an individual could end up here because whatever my mind thinks I am and feel, tomorrow will be different, and today will be nothing more than a dream. Today I touched the perception of belonging to something bigger. Something with no beggining and no end.

I am everything, and I am nothing. And yet, I have this body, and I live this dream. I let it be. I will not resist. 

I return to space and time. To the pleasure of each breathe. Gratitude makes sense again.

It's late. I am going to rest now.

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“Mais tarde nesse dia, experienciei algo novo. Talvez não totalmente, mas nunca aconteceu de forma tão consciente. Sei observar os meus pensamentos. A meditação e as práticas de mindfulness têm-me ensinado a distanciar-me da mente, pelo menos por curtos períodos. Aquilo que sou por detrás das vozes na minha cabeça é-me familiar.

É difícil traduzir por palavras, mas desta vez, foi como se fosse aínda mais além. O que senti foi um distanciamento total da minha entidade física e psicológica. Entrei acidentalmente numa espécie de estado dissociativo por alguns minutos, onde perdi completamente a noção dos limites de mim mesma.”

Partilho o que escrevi após:

Aqui sentada, de olhos postos nesta parede que tantos já olharam antes, e outros tantos conhecerão no futuro. Com as suas vidas em pausa nestes quartos, entregues à companhia das suas sombras. Que trivial esta vida. Não somos mais do que pequeninas partes de um todo. Tantas ilusões de poder e supremacia.

Aqui sozinha, na infinitude da minha existência, desfaço-me da noção de tempo e espaço e encontro-me com a insignificância de ser eu. Mais, rendo-me a esta insignificância. Sou única mas não sou especial. Sou apenas uma peça de um puzzle que nunca foi desmontado. 

Entrego-me à singularidade da minha pequenez, à subtil pertença a um plano superior que não domino nem compreendo. Posso tudo nesta vida porque nada na verdade importa.

Entrego-me à banalidade desta forma de existir para ser feliz com as coisas banais da vida. Qual é o sentido de ter medo? Para quâ o arrependimento? Porquê desistir? Não importa.

Nada importa.

Até a gratidão parece um sentimento bizarro, quando tudo vai além da minha vontade?

É estranho, mas não estou com medo. Sinto paz e tranquilidade. É desconfortável não ter medo, mas é como se não precisasse de mais nada. A minha existência como indivíduo poderia terminar aqui porque tudo o que minha mente julga que sou ou sinto, amanhã será diferente, e o agora não passará de um sonho. Hoje toquei na infinita pertença a algo maior.

Sou tudo e não sou nada. E, no entanto, tenho este corpo e vivo o seu sonho. Seja. Não vou resistir.

Volto ao espaço e ao tempo. Para o prazer de cada respiro. A gratidão começa a ganhr sentido novamente. 

É tarde. Vou descansar.